15 março, 2009

Carta ao Futuro

De algum lugar, em algum dia, de algum mês, de um ano qualquer

Ao senhor que de tudo faz mistério; Futuro,

(Trato-lhe como senhor, por não existir termo específico e regular segundo nossa gramática, e justamente por não ser regular.)
Escrevo-lhe não para pedir algo, como quem desesperado precisa de sua ajuda. De fato, necessito de sua ajuda, preciso que seja mais paciente, isto, contudo, não está em sua natureza, então seria inútil, e como conhecedor da vida, poupo-me de esforços inúteis, apesar de correr o risco de julgá-los erroneamente. Ponho-me a escrever para lhe contar a aflição que me causa o ritmo que vens chegando e indo embora . Às vezes é bom, mas quando percebo, parece que é tarde demais.
O senhor, usando seu poder, como um bom inimigo, priva-nos de momentos bons fazendo com que passem rapidamente e martiriza-nos nos momentos de dor e sofrimento fazendo com que sejam pequenas eternidades. Engana-se se ao menos por três segundos pensa que tenho dor por isso, mas não me agrada a idéia de fazer o que bem entende com o meu tempo, chegando assim, às vezes mais rápido ou devagar. Decide-se, regula-se, não peço que me espere, pois já cansei de esperar, peço-lhe calma, ou assim acabará por terminar comigo muito rápido se eu começar a gostar mais ainda da vida. Porém, também não me sinto fraco por isso, mas sim muito forte na tua presença, saiba que se quer ainda ser meu inimigo, tudo bem, mas te verei com grande indiferença, porque quanto mais quero que chegue, mais demora a aparecer, e quando menos quero, mostra-me um caminho dificultoso e dolorido. Não te culpo por isso, muito menos lhe insulto, ou gosto mais ou menos de ti, ao contrário, agradeço-te por fazer muitas vezes impaciente e outras saudoso. Por alimentar meu coração de sangue, amor, arrependimentos e satisfação.
Olhando-te através de mentes pequenas, mas poderosas, como as nossas, ainda é um mistério cujo dono é o tempo. Constitui uma dimensão que nunca chega, e ao mesmo tempo vem nos assolar quando indagamos ao incerto: “Já?”. Aliás, o termo “já” é a prova mais completa de que existe. Mas, será que o vemos como realmente é? Responda-me se puder, mas se estiver ocupado e com pressa, pena, pois eu não tenho todo o tempo do mundo como você tem.
Senhor Futuro, despeço nesta missiva com votos de confiança, não lhe desejo saúde, paz, amor, felicidade, pois muito rouba de alguns, mas logo se desfaz dando para outros, então desejo que continue assim. Não perderei tempo procurando seu endereço e postando esta carta, pois bem eu sei que ela não pertence mais a você, a mim, ou a ninguém, nunca te confortará lendo-a, nunca receberá, porque neste momento ela JÁ pertence ao Passado.


- De um sonhador que não perde tempo com realidades, mutatis mutandis.

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