19 novembro, 2009

Lugar nenhum

Salvador, 27/10/09 – 14h 15.

LUGAR NENHUM

Se posso dizer que há um lugar onde me sinto totalmente livre é num aeroporto. Não afirmo que seja diversidade de culturas por que aqui só tem galera local. Gosto muito mesmo do Guarulhos/ Congonhas/ Galeão porque tenho impressão de haver mais culturas por lá. Mas isto não é o principal da sensação. O melhor é não saber quem é quem nem de onde é o quem. Nem quero saber quem eu sou. Fico livre até de mim mesma.
Isto tudo começou mesmo como uma viajem intimista. Algo tanto existencial mas, longe da filosofia, me encontro logo é na antropologia. O fato de aqui passarem todos e não ficar ninguém, o ser local de passagem, o ser um não-lugar é que faz de mim um ninguém, um alguém, um não-ser, um não-eu, eu não!
Intrin-secamente, a filo anda com a sócio, psico, por isso tomo um café no Tabuleiro e adoço com açúcar embalado em Taboão da Serra.
A viagem começa sempre neste intervalo, a contra-senso da palavra, infinito. Começa no check-in e acaba no embarque mas nunca chega seu fim. Intervalo longamente mínimo em que o filme do passado se projeta na película da minha própria pele. As membranas vibram, as pestanas aceleram e eventuais umidades brotam e cumprem seu papel. E a dimensão do intimo se esvai diante da visão das naves em volta. Vou entrar numa delas: pássaro de aço. Me leva em duas asas, me tira do chão, concretiza meu vôo que começa nas idéias e acaba no coração. Como o intervalo que passo em lugar nenhum em direção ao céu do meu ser, um não-ser.

14h30
PS: tomando o café.

Por Dalila, grande amiga =D